Em outubro, o Brasil fica cor-de-rosa. A cor, que ilumina monumentos históricos e prédios públicos, enfeita os laços que simbolizam o movimento e aparece com força em campanhas publicitárias serve para promover a conscientização da população sobre o câncer de mama, como uma parte importante das ações do chamado Outubro Rosa. A série de campanhas de conscientização sobre a doença, que é o tipo de câncer mais frequente entre as mulheres, teve início nos EUA nos anos 1990 como forma de encorajar o público a conhecer melhor esse tipo de câncer, que contabiliza cerca de 57 mil novos casos, com uma média assustadora de mortalidade que chega a 13 mil mulheres.

A sexualidade durante o tratamento do câncer de mama é discutida há anos em diversos países, mas no Brasil muita gente ainda a encara como tabu. O tema quase nunca é abordado pelos oncologistas. Tampouco vem à tona entre os casais que enfrentam a doença. A Organização Mundial da Saúde reconhece o impacto da vida sexual no bem-estar das pacientes com câncer e na preservação de seus relacionamentos. Criou-se, inclusive, um termo para isso: oncosexualidade. De acordo com o psiquiatra Paul Enzlin, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, essa noção faz parte de uma evolução positiva que tirou o foco da oncologia na sobrevivência e o colocou na melhora da qualidade de vida de quem se trata do problema.

Orientações e cuidados com a sexualidade da mulher ainda são negligenciados nesse contexto. Entre 35 e 50% das sobreviventes de um câncer sofrem com alguma disfunção sexual. A falta de desejo, por exemplo, pode ser efeito colateral da quimioterapia, assim como queda de cabelo, alteração de humor, secura vaginal e ondas de calor. Referência corporal e símbolo da fertilidade, a mama é também fonte de prazer. Com a notícia do diagnóstico, a mulher passa a se sentir menos atraente e a questionar o sentimento do parceiro. Sem contar que os procedimentos podem influenciar a autoestima e a sensibilidade nas mamas. Cabe notar, porém, que a cirurgia ou a radiação não provocam diminuição do prazer sexual.

Agora, quando nos referimos especificamente ao câncer de mama, precisamos nos ater a uma questão muito peculiar relacionada à identidade feminina. As mamas são parte de um símbolo de feminilidade, sensualidade, beleza, delicadeza. Se temos um comprometimento da mama, há certamente um grande impacto em como a mulher se sentirá na execução de seu papel de mulher e mãe. Infelizmente a cultura da beleza perfeita só aumentará o medo e as sensações de inadaptação desta mulher.

Mas se você tem câncer de mama, lhe deixo algumas questões:

  • Como você acredita que estar lidando com o câncer?
  • Como tem tratado seu corpo?
  • E sua parceria, o quanto você tem se permitido compartilhar e dividir suas angústias?

Principalmente quando falamos sobre o relacionamento afetivo, ter dúvidas sobre seu corpo interfere diretamente no quanto desejamos ou não investir na relação. O câncer ainda é uma doença tabu e precisamos ensinar aos outros como gostaríamos de ser tratadas.Partilhar nossos medos, pedir ajuda, segurar numa mão amiga é o melhor começo para enfrentar todas as dificuldades do tratamento e da recuperação. 

Dicas para melhorar a relação sexual

1) Ajuda psicológica
— Procure um psicólogo para acelerar o processo de adaptação em relação ao novo corpo;
— A presença do companheiro pode ser importante nessa etapa.

2) Atividades físicas
— Movimentar o corpo nesse período pode ajudar a melhorar o desempenho sexual.

3) Lubrificante
— Use lubrificantes apenas à base de água durante a quimioterapia e radioterapia;
— Depois, durante o tratamento hormonal, peça para o seu médico receitar algum medicamento que contenha outras substâncias que possam potencializar os efeitos;
— Utilize o aplicador nos dois casos, porque a lubrificação deve chegar até o canal vaginal para que você não sinta dor, e não apenas na vagina. Em pacientes de câncer de colo de útero, isso é ainda mais importante, porque pode acontecer a estenose (estreitamento do canal vaginal).

4)Imaginação
— É comum perder a libido (vontade de fazer sexo) durante o tratamento do câncer, por isso invista no poder da sua mente.

5) Acessórios
— A autoestima é outro problema enfrentado pela mulher com câncer que deseja manter-se sexualmente ativa. Por que não apostar em uma lingerie especial para se sentir mais atraente? O lenço para cobrir a carequinha pode ser outra opção.

E só para terminar vale lembrar que o amor é construído aos poucos, seja em situações fáceis ou difíceis. Somente se nos permitirmos investir na relação é que poderemos ter a outra parte compartilhando conosco e nos apoiando.